quarta-feira, 30 de março de 2011

Círculo Vicioso -- de Machado de Assis


Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:

"Quem me dera que eu fosse aquela loura estrela

Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"

Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:


"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,

Que, da grega coluna à gótica janela,

Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela!"

Mas a lua, fitando o sol com azedume:


"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela

Claridade imortal, que toda a luz resume!”

Mas o sol, inclinando a rútila capela:


Pesa-me esta brilhante auréola de nume...

Enfara-me esta luz e desmedida umbela...

Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"

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