quarta-feira, 23 de março de 2011

Poema 39 -- de Arriete Vilela


Não sei onde pôr as minhas fragilidades.


Deixo-as à mostra, à vista de todos?


Camuflo-as sob as folhas que se decompõem

e fertilizam a terra da poesia?


Colo-as aos olhos, para que sejam o modo

como terei a comoção dos outros?


Não sei onde pôr as minhas fragilidades.


Deito-me ao colo delas

e apenas observo, a distância, as banalidades

que me doem?


Finco-as mais e mais no peito

e aguardo,condescendente, o desmanche das naus

que navegam em mim?


Finjo serem elas apenas casuais

e apresso-me na travessia das linguagens

que já não revelam as alegorias do luar?


Não sei onde pôr as minhas fragilidades.


Talvez nas tensões, talvez nas rupturas.

Talvez nas emoções, talvez nos descasos.

Talvez no humor, talvez nos dentes trincados.

Talvez na negligência, talvez nos amanhãs.

Talvez nos espinhos da vida, talvez nos meus semelhantes.


Não sei onde pôr as minhas fragilidades,

essas cirandas dançadas à beira dos meus abismos,

à margem de todos os amores

insustentáveis / insubstituíveis.


(Palavras em Travessia - In: Obra Poética Reunida)

Foto: Arriete Vilela

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