terça-feira, 1 de março de 2011

Sugestão -- Cecília Meireles


Sede assim — qualquer coisa

serena, isenta, fiel.


Flor que se cumpre,

sem pergunta.


Onda que se esforça,

por exercício desinteressado.


Lua que envolve igualmente

os noivos abraçados

e os soldados já frios.


Também como este ar da noite:

sussurrante de silêncios,

cheio de nascimentos e pétalas.


Igual à pedra detida,

sustentando seu demorado destino.

E à nuvem, leve e bela,

vivendo de nunca chegar a ser.


À cigarra, queimando-se em música,

ao camelo que mastiga sua longa solidão,

ao pássaro que procura o fim do mundo,

ao boi que vai com inocência para a morte.


Sede assim qualquer coisa

serena, isenta, fiel.


Não como o resto dos homens.


(Mar Absoluto - In: Obra Poética)

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